Defensora que advogava para vítima de estupro alega ter sido expulsa de audiência e denuncia juiz por machismo em Cuiabá
Defensora acompanhava uma vítima de estupro em uma audiência com o juiz. Vítima de estupro declarou que se sentiu desestabilizada ao ficar sozinha com 4 homens na audiência.
A defensora pública, coordenadora do Núcleo de Defesa da Mulher em Cuiabá, Rosana Leite, fez uma queixa formal com relação à conduta do juiz que conduzia uma audiência na Justiça. Ela acompanhava uma vítima de violência sexual e o juiz a proibiu de ficar na audiência.
O caso veio à tona nessa segunda-feira (15) e a audiência aconteceu na semana passada, na 14ª Vara Criminal de Cuiabá. Segundo Rosana, o juiz Jurandir Florêncio de Castilho Júnior disse que ela só poderia ficar se defendesse o réu. Nesse caso o pai da jovem que foi vítima de estupro quando era criança.
Defensora pública há 12 anos, Rosana se emocionou ao contar que foi expulsa de uma audiência onde acompanhava a vítima.
“Esse é um dos parâmetros da minha vida, é a defesa da mulher, justamente em razão de tantas violências que eu vejo as mulheres passarem, infelizmente nessa data, está defensora pública também foi vítima de machismo”, desabafou.
Rosana argumentou ao magistrado que a vítima tinha direito de ter o acompanhamento dela durante a audiência.
“Ele falou [que] neste local não se fala de gênero, aqui a senhora não vai defender mulher, aqui não precisa da defesa da mulher. E eu insisti e ele mais uma vez disse: 'eu nunca vi a senhora, não sei de onde a senhora é, a senhora de fato é defensora pública?' E eu falei sim doutor, sou defensora pública. Então ele pediu para que me retirasse do recinto”, detalhou.
A vítima seria ouvida por carta precatória. O crime ocorreu em outro estado há 10 anos. A vítima disse que prestou o depoimento mesmo assim, mas ficou abalada.
“Eu procurei a defensora para que ela pudesse me dar um auxílio, jurídico e o amparo emocional que eu precisava naquele momento. Me senti desestabilizada assim que ela saiu da sala, eu realmente não esperava, e me vi diante de quatro homens ali na audiência. Então, de certa forma eu me senti um pouco insegura”, afirmou a vítima.
Para ela, a defensoria foi desrespeitada na frente de todos.
Mais de 10 instituições que atuam na defesa dos direitos da mulher prestaram apoio à defensora.
A Defensoria Pública Geral do Estado vai representar o juiz na Corregedoria de Justiça. Ainda, a Defensoria disse que a defensora foi impedida do direito profissional dela.
O Poder Judiciário informou que não pode se posicionar antes de conhecer todos os detalhes.
O juiz disse que não vai falar no momento, mas que a Associação dos Magistrados vai se posicionar por ele em breve.
Fonte: G1 MT
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