Chacina de Colniza completa dois anos sem condenados e com novo possível mandante
O processo pela morte de 9 trabalhadores rurais já foi desmembrado por 3 vezes e não conta com previsão de encerramento
A Chacina de Colniza, município a 1.065 km a noroeste de Cuiabá, completou dois anos na sexta-feira (19) sem condenações. O processo pela morte de 9 trabalhadores rurais já foi desmembrado por 3 vezes e não conta com previsão de encerramento. Suposto mandante dos crimes e alvo de requerimento por prisão segue foragido. Além dos detalhes já conhecidos, fato novo chama atenção. Inquérito complementar segue investigando a participação de mais pessoas.
Valdelir João de Souza (mandante), Pedro Ramos Nogueira, Paulo Neves Nogueira, Ronaldo Dalmoneck e Moisés Ferreira de Souza são acusados de assassinar Francisco Chaves da Silva, Edson Alves Antunes, Izaul Brito dos Santos, Alto Aparecido Carlini, Sebastião Ferreira de Souza, Fábio Rodrigues dos Santos, Samuel Antonio da Cunha, Ezequias Satos de Oliveira e Valmir Rangel do Nascimento. Conforme a denúncia do Ministério Público (MPE), os nomes integram um grupo de extermínio denominado “os encapuzados”, conhecidos na região como “guachebas”, ou matadores de aluguel, contratados com a finalidade de praticar ameaças e homicídios. As mortes foram determinadas porque a área comporta madeira nobre.
No processo mais adiantado, o MPE requereu a pronúncia de Valdelir e Pedro Ramos. Caso o pedido seja acolhido, ambos serão submetidos a Júri Popular. A ação está em fase de alegações finais. Outros três processos julgam separadamente Paulo Neves Nogueira, Ronaldo Dalmoneck e Moisés Ferreira de Souza.
Ação contra Paulo Neves Nogueira ainda está em fase de instrução. A defesa pediu recentemente que fosse realizada audiência para reconhecimento pessoal do réu. Testemunhas oculares deveriam indicar se Paulo estava presente no dia da chacina. O pedido, porém, foi negado.
Ronaldo Dalmoneck foi preso em janeiro deste ano em Ibiúna (SP) ao apresentar nervosismo em uma blitz. A Comarca de Colniza já pediu pela transferência do réu. A ação contra Dalmoneck é a mais atrasada pelo fato de o réu ter permanecido foragido por quase dois anos.
Moises Ferreira de Souza está preso. O processo contra ele, ainda em fase de instrução, aguarda decisão sobre data para oitiva de testemunhas apresentada pela defesa.
Inquérito complementar
Inquérito complementar sigiloso aponta para um novo suspeito de ser mandante. O GD teve acesso aos documentos que trazem mais pessoas supostamente interessadas na área.
Depoimento de testemunha preservada afirma que a área em que ocorreu a chacina havia sido vendida por um homem chamado Gleisso a outra pessoa identificada como Marco Tulio. O pagamento, porém, foi condicionada à “limpeza” do terreno. Ou seja, todos os moradores da região deveriam ser retirados.
Antônio Nilson Rodrigues de Souza também prestou depoimento afirmando que os encapuzados venderam a área para Marco Tulio. “Encapuzados” é nome dado ao grupo de extermínio suspeito de executar a série de assassinatos. Cleisson aparece como pessoa responsável por fazer o “limpa” na área. A reportagem teve acesso a mais 5 depoimentos que citam a participação de Marco Tulio.
O inquérito policial em que as testemunhas foram ouvidas concluiu ser “possível confirmar a existência de fortes indícios da participação de Marco Túlio Santos Duarte como mandante financiador”.
Após representação da autoridade policial, o Ministério Público emitiu parecer favorável à busca e apreensão domiciliar e de aparelhos celulares, bem como pela prisão preventiva de novos suspeitos.
há indícios fortes de que o Marco Tulio seja um dos mandantes/financiadores do crime, vez que adquiriu as terras onde encontravam-se os posseiros assassinados e condicionou o pagamento total pela área a limpeza. O Cinquentinha (Edson) e o Zangão (Isac) trabalham para o Marco Tulio, sendo que o cinquentinha foi a pessoa responsável por levar para a região do Taquaruçu alguns dos executores do crime, e que Zangão teria guiado os executores, por saber detalhadamente o modus operandi como ocorreu a execução, além do objetivo de promover a limpeza da área, seja matando ou expulsando posseiros. O Cleisson, por outro lado, tinha intenção de promover a limpeza da área, vez que com isso receberia o restante do valor e contribuiu para a limpeza da área”, explicou o Ministério Público no parecer
No dia 20 de junho de 2018, embora não tenha sido acolhido pelo magistrado o pedido de decretação da prisão preventiva, foi deferida a busca e apreensão domiciliar.
Defesa e acusação
Ouvida pela reportagem, a defesa de Valdelir João de Souza afirmou que o inquérito complementar demonstra outra pessoa como mandante do crime. O réu seria inocente, desconhecendo totalmente as circunstâncias do crime. Devido ao inquérito complementar, Valdelir não pode ser pronunciado, consideram os advogados.
Em contrapartida o Ministério Público explica que o inquérito complementar traz as possibilidade de outra pessoa ter agido em conjunto com Valdelir, também como mandante.
Fonte: Gazeta Digital
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