Prefeita confirma reuniões na Casa Civil, mas nega “corrupção”
“Quem acusa, cabe o ônus da prova. Já me coloquei à disposição da Justiça", disse Luciane Bezerra
A prefeita de Juara (709 km ao norte), Luciane Bezerra (PSB), preferiu não revelar se tinha ou não uma dívida de R$ 700 mil a receber do ex-governador Silval Barbosa, conforme consta na delação premiada do ex-secretário de Fazenda, Pedro Nadaf.
Entretanto, negou qualquer “ato de corrupção” enquanto atuava como deputada estadual.
Luciane disse ter sido orientada por seus advogados a não dar maiores detalhes sobre o episódio. Mas disse já ter se colocado à disposição da Justiça para “colaborar”, inclusive, segundo ela, com a quebra de sigilo bancário.
“A quem acusa, cabe o ônus da prova. Já me coloquei à disposição da Justiça desde o ano passado. Antes de eu ser prefeita. Hoje, como prefeita, reitero, com quebra de sigilo bancário. Na Justiça, vou colocar meu posicionamento. As dúvidas que a Justiça tiver, vou sanar. Uma coisa eu digo: nunca participei de nenhum ato de corrupção. Isso é fato. Agora, o que levou ele [Nadaf] a falar isso, não sei. Ele é quem tem que explicar o motivo disso tudo”, afirmou.
“Eu estou com tudo pronto para quando a Justiça me chamar. Até por precaução, meus advogados pediram para eu não falar nada além disso. E só falar perante a Justiça. Então, prefiro aguardar”, disse.
A prefeita confirmou ter tido reuniões com o ex-secretário na sede da Casa Civil. Entretanto, ressaltou que os encontros eram para tratar de “demandas do interior”.
“Falar, até papagaio fala. Eu, por várias vezes, fui à Casa Civil, mas para tratar de assuntos do interior, das demandas do interior. Por mais que eu fosse oposição, ia a todas as secretarias, levava as demandas. A Casa Civil, geralmente, tem que ser o primeiro ponto que a gente vai. Mas visitava todas as outras também”, afirmou.
A prefeita disse “não temer” as acusações do ex-secretário e reiterou o discurso de seu marido, o deputado estadual Oscar Bezerra (PSB), que disse acreditar em uma trama para prejudicá-la politicamente.
“A princípio, quando surgiu essa história, foi na época das eleições. Então, foi muito conveniente, principalmente lá em Juara, porque estávamos em um pleito eleitoral. Mas, eu também não temo nada, falar é uma coisa, provar é outra. Estou à disposição da Justiça e vou esperar me chamarem”, completou.
As acusações
No início deste mês, o ex-secretário de Estado Pedro Nadaf confessou que usou parte do dinheiro arrecadado no esquema investigado na 4ª fase da Operação Sodoma para pagar dívidas próprias e do ex-governador Silval Barbosa.
Ele prestou depoimento à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, no último dia 04 de julho.
Na oitiva, Nadaf disse que lucrou R$ 500 mil com os crimes, sendo que parte do valor foi usado para pagar uma dívida de Silval com o empresário Alan Malouf - também réu da ação - e uma dívida pessoal com a ex-deputada e atual prefeita de Juara, Luciane Bezerra.
"Utilizei parte do dinheiro da desapropriação para pagar a ex-deputada Luciane Bezerra [atual prefeita de Juara]. A dívida com ela era de R$ 700 mil. Eu fui tirando um pouco dali, outro daqui para ir saldando".
O esquema em questão teria ocorrido em 2014, por meio da desapropriação de um terreno de R$ 31,7 milhões no Bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, sendo que metade do valor (R$ 15,8 milhões) teria retornado como propina à organização criminosa comandada por Silval.
"A dívida que eu assumi pagar com ela [Luciane Bezerra] foi de R$ 700 mil. Não sei quanto tirei do desvio da desapropriação, sei que paguei esses R$ 700 mil em quatro vezes".
A denúncia já tinha vindo à tona no ano passado. Em maio, a delegada Alexandra Fachone, da Delegacia Fazendária (Defaz), em depoimento à juíza Selma Arruda, confirmou que o Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT) investiga a prefeita por conta da denúncia de Nadaf.
A delegada afirmou durante a audiência que existe um inquérito policial sobre o assunto, mas evitou falar mais sobre o caso devido ao fato de Luciane ter prerrogativa de foro junto ao Tribunal de Justiça. "Existe um trabalho de investigação, mas não podemos dar detalhes, por ser sigiloso", explicou.
Fonte: Midia News
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