Falta de medicamentos preocupa portadores do vírus
O risco de desabastecimento de medicamentos utilizados para o tratamento de pacientes com HIV/Aids preocupa portadores do vírus, em Mato Grosso
Em nota enviada aos estados, o Ministério da Saúde (MS) reconheceu que dos 37 remédios cinco não estão sendo distribuídos de acordo com os pedidos feitos e estão em “situação de alerta ou crítica”. No Estado, o "Abacavir solução oral" é um dos fármacos que está com o estoque baixo. Em Cuiabá, pacientes não descartam recorrer ao Ministério Público Federal (MPF) para evitar possível desguarnecimento.
Em 21 de junho passado, a Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES) havia alertado para o problema já que o MS não vem enviando a quantidade solicitada. "Eu vejo essa situação como se o governo estivesse cometendo um crime coletivo por que uma pessoa que fica 15 dias sem tomar remédio logo vai começar a ter problemas com doenças oportunistas, como pneumonia e derrame", lamentou Kátia Damascena, soropositiva há 20 anos. "A medicação dá sobrevida e, se a pessoa fica sem tomar o remédio, perde essa sobrevida adquirida depois de tantos anos", completou.
De acordo com a Secretaria de Saúde, a nota foi enviada pelo Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle IST/Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério a todos os coordenadores e responsáveis nos estados pela logística dos medicamentos antirretrovirais. Um dos cinco remédios listados é o Zidovudina Solução Oral que, segundo o Ministério, foi enviado a todos os estados em quantidade suficiente para um mês de consumo (última entrega no dia 5 de julho) e a expectativa é que até o dia 24 deste mês será entregue uma quantidade suficiente para um mês e meio de consumo. A partir de agosto, o Ministério garante que entregará a programação ascendente de forma integral.
Em nível nacional, portadores do vírus fizeram um vídeo em que lembram que estão vivos até hoje em função do tratamento feito com os medicamentos distribuídos pelo MS, os famosos retrovirais. Porém, lastimam a falta ou fracionamento dos produtos em algumas regiões do país. No vídeo, um dos alertas é quanto à falta do AZT para gestantes, o que representa risco de transmissão vertical, ou seja, as mães grávidas que não tiverem acesso ou deixarem de tomar a medicação irão transmitir o vírus para o filho. "No Amazonas, eles estão recebendo remédio fracionado já há algum tempo e, no Rio Grande do Sul, já está faltando. Aqui em Mato Grosso, há uma semana, se não me engano no dia 7 de julho, chegou medicação. Eu fui buscar e ainda comentei que a distribuição estava sendo regularizada, mas a resposta que recebi foi de que, infelizmente, o remédio só daria para uma semana", comentou Damascena.
Apesar de já ter pegado a sua medicação, o que pode fazer a cada 21 dias, Damascena se mostra preocupada. "A minha medicação é antiga, não é dessa com nova tecnologia e, costumo até brincar com isso, porque são poucas pessoas que tomam aqui em Mato Grosso. Falo isso porque a 3 em 1, a informação é de que já não teria mais na semana que vem aqui", disse. "Para que isso? Por que o governo está desmantelando um programa que sempre deu certo, porque desde que foi descoberta a Aids tem tido uma luta crescente para a melhoria de vida das pessoas que vivem com HIV e, agora, esse governo está querendo desmantelar. Eu não consigo entender isso", lamentou.
Conforme informações da Secretaria de Saúde, sobre o Zidovudina 300mg + Lamivudina150mg, o Ministério afirma que todos os estados possuem em média um mês e meio de cobertura. “Novas entregas serão realizadas neste mês pela Furp, Lafepe e Fiocruz. Com essas entregas a cobertura será ampliada em mais um mês. A partir de agosto ocorrerão envios regulares para manter o abastecimento”, diz trecho da nota.
Quanto ao Ritonavir Solução Oral, o Ministério da Saúde informou que nota técnica enviada na última sexta-feira, dia 7, garante a ampliação da validade por mais 30 dias. Uma nova remessa está em andamento com previsão de entrega nos estados a partir do dia 17 de julho.
Sobre o quarto medicamento da lista, Tenofovir300mg +Lamivudina300mg+ Efavirenz600mg (3 em 1), o órgão federal informou que foi enviado para os estados entre os dias 19 e 20 de junho em quantidade suficiente para um mês de consumo. "Em Mato Grosso, esse medicamento chegou no dia 19 de junho, mas, conforme a Vigilância Epidemiológica, a quantidade enviada foi inferior à solicitada, e, em geral, é suficiente apenas para um mês", destacou.
Sobre este medicamento, o MS assegurou que “até o início da próxima semana – previsão para o dia 17 – será entregue uma quantidade para mais dez dias e até o dia 24 de julho quantidade para mais dois meses de consumo. A previsão é que a partir de agosto a programação ascendente seja atendida integralmente. As parcelas foram muito fragmentadas pelo fornecedor e por este motivo as entregas não têm ocorrido em quantidade para até quatro meses de consumo”, diz trecho da nota, encaminhada à coordenadora de Vigilância Epidemiológica da SES, Alessandra Moraes.
Por fim, a respeito do remédio Abacavir Solução Oral, o Ministério informou que a expectativa é fazer a entrega de nova remessa até o final de julho. “Já providenciamos remanejamento para atender o município do Rio de Janeiro, além dos estados do Ceará e Alagoas, com previsão de entrega para o final desta semana”, diz a nota. O Abacavir, segundo a coordenadora Alessandra Moraes, é um dos medicamentos que está com o estoque baixo no Estado.
O Departamento de Vigilância do Ministério da Saúde informou também que o Ritonavir 100mg encontra-se em desembaraço alfandegário quantitativo para dois meses de consumo. “A expectativa é distribuir todo o quantitativo até o final desta semana para que todos os estados recebam a partir do dia 17 de julho. Novas remessas ocorrerão em agosto de forma a suportar a migração dos pacientes que utilizavam o Lopinavir + Ritonavir”, explicou o departamento. Também que está em andamento a entrega do Lamivudina 150mg na quantidade suficiente para atender dois meses e meio de cobertura em todos os estados.
JOANICE DE DEUS
Diário de Cuiabá
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