Chacina de 9 trabalhadores em Colniza marcou 2017 com "guerra" por terras em Mato Grosso
Por ser uma área de difícil acesso, sem sinal de telefone e celular, a polícia só foi comunicada da chacina no dia seguinte
Um dos casos de grande impacto em 2017 foi à chacina em Colniza (a 1.114 km de Cuiabá), onde nove pessoas foram assassinadas por conta de uma disputa de terra. O caso ocorreu em 20 de abril, na Gleba Taquaruçu do Norte, na zona rural do município.
A chacina foi cometida no dia 19 de abril e vitimou nove homens com idades entre 23 e 57 anos. Eles estavam em barracos erguidos na área rural quando foram rendidos, torturados e mortos. Dois deles foram assassinados com golpes de facão e os outros sete com tiros de espingarda calibre 12.
Por ser uma área de difícil acesso, sem sinal de telefone e celular, a polícia só foi comunicada da chacina no dia seguinte, quando testemunhas conseguiram chegar até o distrito de Guariba, também em Colniza. Inicialmente, a principal hipótese das investigações era de que os nove homicídios teriam sido cometidos a mando de fazendeiros da região por causa de uma briga por terras.
9 trabalhadores perderam as vidas de forma brutal na Gleba Taquaruçu do Norte, em Colniza, em abril de 2017
Após a chacina, a secretaria estadual de Segurança Público (Sesp) montou força-tarefa para investigação do caso. Equipes de policiais civis, peritos criminais e policiais militares de batalhões especializados, como o Bope, foram enviadas ao município. Três delegados apuraram o caso.
As vítimas foram Francisco Chaves da Silva, 56, Izaul Brito dos Santos, 50, Ezequias Santos de Oliveira, 26, Samuel Antônio da Cunha, 23, Francisco Chaves da Silva, 56, Aldo Aparecido Carlini, 50, Edson Alves Antunes, 32, Valmir Rangeu do Nascimento, 55, Fábio Rodrigues dos Santos, 37, e o pastor da Assembleia de Deus, Sebastião Ferreira de Souza, 57.
Em maio o Ministério Publico Estadual (MPE) denunciou cinco acusados de participar da chacina. Segundo o MP, foram denunciados o empresário do ramo madeireiro Valdelir João de Souza, de 41 anos, apontado como mandante do crime, além do ex-sargento da Polícia Militar de Rondônia Moisés Ferreira de Souza, Ronaldo Dalmoneck, Pedro Ramos Nogueira e Paulo Neves Nogueira, sendo esses dois últimos tio e sobrinho.
Pedro Ramos e Paulo Neves estão presos preventivamente, enquanto Ronaldo está com a prisão preventiva decretada, mas ainda não foi preso. Valdelir Souza está com a prisão temporária decretada e a defesa chegou a negociar a entrega às autoridades policiais, mas isso não ocorreu. Já o ex-policial é procurado por outro crime cometido em Rondônia e, por essa razão, não teve a prisão pedida pela polícia mato-grossense.
População local fica chocada com assassinatos em série em gleba
Na denúncia, o MP afirma que os acusados integram um grupo de extermínio denominado “os encapuzados”, conhecidos na região como matadores de aluguel, sendo contratados para ameaçar e executar pessoas. Consta na denúncia que, no dia da chacina, Pedro, Paulo, Ronaldo e Moisés, a mando de Valdelir, teriam seguido até a Linha 15, onde as vítimas estavam.
Em outubro, o juiz Ricardo Frazon Menegucci, da Vara Única de Colniza marcou a primeira audiência de instrução sobre a chacina. Ela foi realizada às 14h de 27 de novembro. Segundo o magistrado, a audiência serviu para ouvir as testemunhas do caso, os peritos que atuaram no caso e, ao final, os réus serão interrogados.
No dia 27 um dos primeiros relatos à Justiça, foi de Darlan e Marduqueu, e duraram mais de 4h, reunindo informações do que viram no dia do crime, dos trabalhos na Associação de Pequenos e Médios Produtores de Taquaruçu do Norte, quem são os chamados “encapuzados”, e como funciona a extração de madeira na região.
Os irmãos Heliovan Gomes da Rocha e Elianei Gomes da Rocha também colaboraram com o processo no sentido de detalhar a realidade local. Por volta de 20h, o policial civil Ricardo Sanches foi ouvido porque conduziu uma das equipes de resgate dos corpos. Vítimas amarradas, com tiros que deixaram as vísceras expostas, caídas de motocicletas e degoladas com fios fizeram parte do cenário encontrado, de acordo com o depoimento.
Já no período noturno da audiência, as testemunhas de defesa Ranigleice Oliveira da Silva, Leandro Machado, Fabiano Thiel, Joacir Alves, Juraci Boa Sorte Pereira, Gilberto Dejair Camara Erbst falaram sobre os réus Valdelir João de Souza, Pedro Ramos Nogueira e Moisés Ferreira de Souza, com quem tinham relações profissionais e pessoais.
Ao fim das oitivas, houve acareação entre três testemunhas: Marduqueu, Leandro e Ranigleice por algumas divergências no depoimento, quanto à data e o local onde o acusado Pedro Ramos estava nos dias 19 e 20 de abril. Uma nova audiência está prevista para março deste ano.
Fonte: Barbara Sá/RD News
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