Baixa remuneração gera desinteresse pela pediatria
Nos últimos anos tem sido cada vez mais frequentes as queixas de pais que não conseguem atendimento pediátrico para o filho. É que está faltando este tipo de profissional no mercado. O desinteresse pela especialidade é resultado da baixa remuneraç?
Nos últimos anos tem sido cada vez mais frequentes as queixas de pais que não conseguem atendimento pediátrico para o filho. É que está faltando este tipo de profissional no mercado. O desinteresse pela especialidade é resultado da baixa remuneração pela consulta clínica ou plantões e da jornada excessiva. Entre as consequência, as consultas rotineiras de puericultura estão sendo substituídas pelo atendimento nos prontos-atendimentos (PAs), que vivem lotados de crianças.
Dados do Conselho Regional de Medicina (CRM/MT) mostram que Mato Grosso hoje conta com 314 pediatras, 40 a mais que há cinco anos. Do total, 178 atuam em Cuiabá e Várzea Grande. Credita-se à Organização Mundial de Saúde (OMS), uma proporção recomendada de um pediatra por grupo de 200 habitantes. Na Grande Cuiabá, há um pediatra para cada grupo de 4,5 mil habitantes.
O médico Arlan Azevedo, do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), afirma que a desvalorização é um dos principais motivos que faz com os jovens médicos não se interessam pela pediatria. “Tanto o sistema público quanto a rede suplementar remuneram muito mal o ato médico”, diz.
Azevedo explica que ao contrário de outras especialidades, os pediatras não têm remuneração por procedimentos, como exames e cirurgias. “Todos que lidam com o ato médico em si, aquele que não tem aparelho agregado (exames complementares), estão sendo desvalorizados”, reforça.
Um exemplo é o cardiologista, que por vezes precisa realizar eletrocardiogramas no consultório, o que aumenta seus rendimentos. Assim os formandos procuram outras áreas, que possibilitam a realização de outros procedimentos mais bem remunerados. Já ao pediatra, resta trabalhar em carga horária excessiva fazendo com que muitos optem por uma especialidade que lhes proporcione a uma vida menos exaustiva.
Os pais sentem na pele a dificuldade das redes de saúde privada e da pública em atender à demanda. A filha de sete anos de Ana Beatriz de Souza, 39, ficou doente, com febre e vômito. “Estou aguardando há uns 10 minutos e têm outras crianças na frente. A informação que deram é que tem um médico atendendo. Se tivesse mais o atendimento poderia ser melhor e mais rápido”, disse a mãe que buscou assistência uma PA particular.
Porém, conforme Azevedo, o vácuo de profissionais especializados na área não é único. “Além do pediatra há uma necessidade de profissionais nas subespecializações, como as de terapia intensiva e neonatologia”, relata. “O pediatra trabalha mais de 50 horas por semana com disponibilidade o tempo todo e a subespecialização não altera em nada a vida do profissional”.
Fonte: Joanice de deus/diário de Cuiabá
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